Monday, December 25, 2006

pelas janelas


olha eles, pacatos, em seus apartamentos de dois ou três quartos no prédio em boa localização e condomínio não tão caro assim, vaga na garagem e carro popular para ir e vir pelas ruas da grande cidade. se pudéssemos ver por entre as paredes e janelas com cortinas fechadas veríamos sorrisos e risadas e alguns vinhos e champanhas sobre a mesa, família reunida e alguns presentes embrulhados em papéis coloridos e laços de fita. deposi eles voltam à rotina, a jornada através do trânsito para o serviço, as telenovelas noturnas, o serviço de casa, os passeios de fins de semana e os jantares em restaurantes nas sextas-feiras. são tão assim, você vê? têm todos aquele olhar estranho e as moedinhas no porta-luvas para dar de esmola nos semáforos mais demorados. a expressão de cansaço e satisfação, o orgulho ao comprar o celular novo e descer a serra rumo ao litoral nos feriados prolongados.

o quanto é suficiente pra você? qual teu preço? quando deita ao cair da noite, chegando das horas diárias de entrega ou da escola ou da faculdade, quando cochila no sofá da sala durante uma partida monótona de futebol, quando se pega dormindo em meio à missa de domingo, o que está em sua cabeça? quantas vezes você jogou na loteria neste ano?

responde, lê e pensa. apenas mais um?

Wednesday, December 20, 2006

1, 2 ,3, gravando


canal errado, talvez. só sei que a imagem e o som que enchiam a sala ecoavam nas paredes, iam e voltavam, mas não conseguiam preencher meu vazio. bem maior que isso. bem maior que a sala bem mobiliada que escondia todos defeitos da alma através de computador moderno, parede pintada e sofá bem forrado. o controle remoto não ajuda na empreitada, pois o filme se repete nas estações.

acho que eu não seria um bom diretor. sempre escolho os ângulos errados e as protagonistas também, sempre escolho a pessoa errada para o papel de mocinha. também não tenho os grandes salários da indústria cinematográfica e amorosa e ofereço condições precárias e instabilidade no trabalho e na vida. não creio que seja o suficiente para ninguém. eu mesmo tentei me demitir algumas vezes, mas as duras leis trabalhistas trataram de me manter aqui. o roteiro é bem escrito, em linguagem ágil, esperta, bons quadros, cenas inteligentes e finais felizes mas não piegas. o problema é que algo se perde entre a teoria e a prática, algo vai errado na direção ou as ordens são dadas de forma errada ou discplicente.

levanto do banquinho especial daqueles que vemos em filmes e ilustrações.
talvez seja melhor ser coadjuvante. ou mesmo protagonista, se o talento e a sorte permitirem.
mas sinto que perdi a força de ser o diretor de meu próprio filme.

CORTA.

Friday, December 15, 2006

instantes

nossos sorrisos brilhavam tão tolos sob aquele forte vento do alvorecer. as cores se misturaram naquele céu de maneira inédita e exclusiva. era o nosso nascer do sol, feito para aquele dia especial em que deixáramos para trás o sono e a rotina. olha as expressões, alegria inocente de criança que descobre a vida em cada momento de uma noite em claro. que assiste segundo a segundo a escuridão virando dia. e o vento gélido, ao invés de amedrontar, balança os cabelos e aumenta os sorrisos. há horas em que tudo parece tão certo, não? guardamos esse dia como poucos outros na memória, cantinho especial reservado em porta-retrato moldura de prata. a gente se contenta com tão pouco, se vende por tão pouco, arrisca tudo por tão pouco...que é estranho contemplar nossa própria imagem nesta foto desfocada.

Thursday, December 14, 2006

Três vasos quebrados, dois corações despedaçados e um motor fundido


Foram três vasos quebrados, dois corações despedaçados e um motor fundido. Ele e ela, duas bombas batiam em seus peitos. Bombas de idéias por toda uma única coerência revolucionaria, gritar pelos “surdos”, enxergar pelos “cegos”, escutar pelos “mudos’’, andar pelos “alejados” e até sorrir pelos “infelizes”. Bombas que concentravam energia demais, claro que o óbvio aconteceu. A explosão trouxe cicatrizes internas porém eternas. Ele se atirou ao mundo esquecendo-se da revolução, pois sentia-se morto, já não podia mais sentir. Então sentou-se em seu surrado carro e pisou fundo. Enquanto ela se sentia como uma exilada, e não mais poderia se relacionar. Para ela o amor era único e traçado sobre as estrelas. Partindo para longe dos olhos alheios, no rumo da lagoa onde costumavam se amar.

Continua....

Tuesday, December 12, 2006

caminhada


eu andava olhando pra baixo, sabe. havia muitas coisas em que se pensar e a paisagem parecia obscura, como uma antiga fotografia em preto e branco. tua presença dava algum colorido a tudo, mas não era jamais o suficiente. talvez porque você nunca se desse por inteira. a face virada meio de lado, o sorriso displicente, enigma. os abraços não tão apertados assim. quando você se foi, também, não senti surpresa, desalento - sim - mas pude agüentar, era o fim esperado. porque sei que as boas ondas duram pouco e a sorte não dá em trevos de quatro folhas. talvez fosse cedo demais para mim, para você, para esse universo idiota que está em constante expansão, as galáxias e estrelas se afastando cada vez mais. entende? se afastando. sim, são as leis da física, levando tudo para longe de nós, cada vez mais. e o destino final é ser buraco-negro, atraindo a luz, tornando tudo escuridão. e, como eu dizia, eu andava de cabeça baixa, cantando as músicas que me lembravam dos dias bons. e tentando colocar cores naquele cenário destruidor das ruas de minha cidade pequena cidade tão interioranas e tão vazias e simples. porque o único sentimento que combina com o cinza é a melancolia, e as músicas em meus fones de ouvido me sopravam esperança, enquanto eu lembrava de quando a esperança não era só uma sensação esmagadoramente falsa.

Monday, December 11, 2006

Presa por ser livre demais, presa por consolo


É bem difícil criar as melhores situações. Mas e quando elas estão aqui? Você prefere sentar e olhar? Ou estar lá pra poder sentir bem de perto o seu sonho?Parece até mais um revoltado falando sobre suas injúrias, seus desgostos, mas não é, seria só mais um tolo que não consegue fugir, mas tenta fingir.

Prefiro me equivocar a desistir. Estarei sempre na luta agarrando meus sonhos com unhas e dentes, mas, cuidado, a cólera às vezes nos puxa de volta pra realidade, de que você não tem nem nunca terá tanta liberdade autonomia sobre o pensar o realizar. Você já sentiu a sensação de estar sendo manipulado por uma criança jogando vídeo game e você ser o super-herói da vez. Só que nesse jogo pra ganhar você vai precisar ganhar dinheiro sem importar o que você faça: o importante é atingir o objetivo do jogo.

É, tenho me sentido assim, a cena que tanto quis está ai em minhas mãos, lógico que eu agarrei ela, mas a cena dos meus sonhos não é ligada a dinheiro e nada de luxo, mas muito conceito que pra mim é maior que todos os luxos do mundo, porém sinto a criança ingênua me puxando de volta me mandando mudar o rumo e correr atrás do objetivo do jogo. Querendo ou não eu faço parte do jogo estou presente e sou mais uma peça dele. Mas como poucos eu queria lutar pra me tornar um cara importante seguindo meus ideais buscando minhas conquistas, mas essa criança me irrita tanto por barrar minha liberdade, o meu jogo é agora e ela não desliga o videogame, já é hora de dormir e todos estamos compenetrados para derrotar o chefão. Seria o chefão o instante em que estou da minha vida, coisas boas são negativas nesse jogo, ninguém quer saber da satisfação. O premio é muito poder e insatisfação.

Sabe essa fumaça que prendemos certas vezes nas noites de boemia ? Ela não tem a culpa de ser fumaça e intoxicar os pulmãos, ela só quer flutuar por ai. Ela nasce pela nossa culpa e do jeito que ela quer ser feliz vocês deixam ela por aqui ao ver de seus olhos. Qual a graça? Dor por dor já temos a do dia-a-dia. E pra aliviar a dor, a dor dos outros é consolo. Conquistemos o dinheiro que poderia ser dos mortos de fome e sejamos ricos felizes. Pois felicidade é dinheiro. Todos os dias acho tudo isso uma babaquice e adoro andar no meio dos bichos grilos. Freqüentar a escória, o lixo. Medo tenho disso tudo acabar, de crescer me conformar como todos, e no fim do ano chegar vestido de Papai Noel.

Sunday, December 10, 2006

tênis e chuvas

eu tinha um velho par de all-star. sabe, eram os tênis mais baratos naquele tempo e eu costumava usá-los e esquecer, ao menos nos dias em que não chovia, que ele se desgastava tão rápido e ficava cheio de buracos e costuras feitas por mamãe. naqueles tempos eu fazia longas jornadas a pé pela cidade, freqüentava bibliotecas e praças e cafés. as tardes livres se iam assim, inconstantes, monótonas, mas livres.

mas logo os anos vieram e eu não passava mais as tardes livres, mas tinha todas as noites do mundo preservadas por minha insônia e tinha os fugazes fins de semana. mas não ia às bibliotecas ou cafés, mas aos bares e bairros escuros da cidade. cansado de aprender e desaprender. cansado do mofo e do amarelo de livros escritos por gente que nunca tinha vomitado em um banheiro de bar. gente que nunca tinha tomado um murro na cara ou sangrado sangue vermelho-vivo.

apanhei, caí, cuspi o sangue quente. comprei tênis novos. tão bons. nem eram tão caros. e ainda eram all-star, de qualquer maneira, sabe. o que importa é que eu estava ali, tomando aquela chuva estranha de fim de tarde, deixando que ela me molhasse e pensando em como um par de all-star velhos podiam me descrever melhor do que uma carteira de documentos.

O trago da esperança vem com dor e rancor

Já se passaram alguns anos após a grande historia de sua vida, desde então o ritual é o mesmo. Um dia de trabalho toda sua vida passando enquanto a fumaça chega por cima das cabeças, que insistem em seguir as ruas de encontro ao mar. Então ao estacionar o carro em sua pequena garagem ele acende um cigarro. O cigarro que leva com ele toda mágoa e rancor, que ele tenta apagar com alguns tragos. Sua vida empata na pequena grande história, deixado pra trás por um coração, que costumava bater mais rápido quando estavam juntos, mas o mundo é mais forte. O universo de um homem foi vazio demais, para manter um coração apaixonado pela vida e pelas pessoas, que preferia amar o que fosse mais empolgante. Agora as músicas que embalavam suas paixões eram "me gusta la gasolina", aquela antiga canção punk que acelerava as noites mais quentes estava apagada e a melodia esquecida. As frases agora sem sentido, estavam sempre presentes em sua mente quando ele acendia seu cigarro da esperança. Esperança? Qual era a busca interminável navegando sobre a fumaça da nicotina? Seria impossível trazer de volta toda energia que rolava entre eles, ela adora estar na moda, e agora ele só quer trabalhar e ter suas noites de bebedeiras com amigos, companheiros e colegas, ele queria muito estar lá, mas ele está aqui tentando entrar na tribo do abraço, deixar a solidão de lado, mas repito o amor pelo mundo é mais forte, vingança nos olhos, atitudes falsas são suas armas contra todo ódio que ele acumula em seu pequeno peito já conformado, pulmãos inchados. Mas não importa mais o que aconteça ou se ele se esqueça, seu dia sempre terminará num humilde e cruel cigarro.

Sunday, December 03, 2006

Começando a jornada


Pega o volante, engata a primeira, respira aliviado e tensoas emoções conflitantes da primeira marcha. A noite já chegou e os faróis não ajudam muito. A escuridão é densa e dói na alma. Como a chuva que vai cair a qualquer momento. Ah, vai, sim. Sempre chove em momentos como esse. Começa com aquela garoa paulistana, gelada, fraca, poética, quase, mas logo chega a uma tempestade, sem raios, em que a chuva é fria e forte e o céu cinza lembra tempos de apocalipse que não presenciamos mas trazemos conosco na memória.

É difícil fazer aquela curva, aquela guinada. A velocidade baixa, a mente se perde, divaga, as mãos buscam apoio, a mudança é estranha, é calada. Pouco importa se são passos curtos ou largos, segue o caminho e vê que os dias estão cinzas como naqueles tempos em que as cartas chegavam em casa sem remetente, mas tu sabias de quem eram e o que diziam, embora não quisesse ler para comprovar definitivamente. O sol não tem brilho, esconde-se atrás da lua, tão maior, ela que também não é cheia nem minguante, apenas cumpre seu papel sem o glamour que tantos dão a sua imagem. Fica lá, lua, tenta colocar um pouco de luz nesta noite de escuridão densa.

Volta atrás. As placas não indicam o caminho.