eu tinha um velho par de all-star. sabe, eram os tênis mais baratos naquele tempo e eu costumava usá-los e esquecer, ao menos nos dias em que não chovia, que ele se desgastava tão rápido e ficava cheio de buracos e costuras feitas por mamãe. naqueles tempos eu fazia longas jornadas a pé pela cidade, freqüentava bibliotecas e praças e cafés. as tardes livres se iam assim, inconstantes, monótonas, mas livres.
mas logo os anos vieram e eu não passava mais as tardes livres, mas tinha todas as noites do mundo preservadas por minha insônia e tinha os fugazes fins de semana. mas não ia às bibliotecas ou cafés, mas aos bares e bairros escuros da cidade. cansado de aprender e desaprender. cansado do mofo e do amarelo de livros escritos por gente que nunca tinha vomitado em um banheiro de bar. gente que nunca tinha tomado um murro na cara ou sangrado sangue vermelho-vivo.
apanhei, caí, cuspi o sangue quente. comprei tênis novos. tão bons. nem eram tão caros. e ainda eram all-star, de qualquer maneira, sabe. o que importa é que eu estava ali, tomando aquela chuva estranha de fim de tarde, deixando que ela me molhasse e pensando em como um par de all-star velhos podiam me descrever melhor do que uma carteira de documentos.
O Cuseiro do Rei
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assu...
7 years ago
2 comments:
É eram tempos dificeis mas superamos como sempre
e como vc diz o all star fala por nos
brisa
mta brisa!
amo mto tudo isso.... rsrs
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